Mais de R$ 50 milhões foram desviados, em forma de empréstimos irregulares, em duas agências da Caixa Econômica Federal (CEF), em Fortaleza. O esquema milionário foi descoberto pela Polícia Federal (PF) e envolveu, pelo menos durante um intervalo de dois anos, 15 pessoas, entre elas, dois gerentes de agências bancárias, empresários, contadores e sócios 'laranjas' de empresas de fachada, criadas somente para a obtenção dos empréstimos fraudulentos, de acordo com a PF. Ontem, 13 pessoas foram presas por ordem judicial e 23 mandados de busca e apreensão foram cumpridos na deflagração da 'Operação Caixa Preta'. Dois empresários estavam ainda foragidos, até o fechamento desta edição, segundo a Polícia. Um dos gerentes, já havia sido preso ano passado, na deflagração da 'Operação Fidúcia', que também consistia em empréstimos fraudulentos concedidos pela CEF.
"O trabalho desenvolvido pela auditoria da Caixa Econômica, por meio de monitoramento e controle da regularidade dos contratos de empréstimos existentes, constatou fraudes em diversas operações de créditos relacionadas à mesma organização criminosa. Chegaram a nós 14 contratos fraudulentos, sem o contrato de origem. Nas apurações, o número chegou a 409".
Conforme a Polícia Federal, o grupo criminoso operava através de 'pirâmide' para obter os recursos indevidos. O delegado que comandou a operação explicou que havia várias empresas de propriedade de um mesmo empresário, embora utilizassem os nomes de 'laranjas'. Os empréstimos eram feitos e usados uns para pagar os outros. Contudo, o de maior valor acabava escolhido para ser embolsado, sem ter nenhuma parcela paga.
"Alguns valores eram sacados ou transferidos para as outras empresas, de fachada. Na maioria, eram empréstimos de capital de giro", afirmou.
O delegado indicou que as fraudes eram "grosseiras" e o volume de concessões chamou a atenção dos auditores. A 32ª Vara da Justiça Federal expediu 38 mandados, sendo 15 de prisão temporária e 23 de busca e apreensão. Destes mandados, dois de prisão, contra empresários, não foram cumpridos. Dos de busca e apreensão, um foi cumprido em Recife, com apoio da PF do Estado de Pernambuco. Ao todo 110 policiais participaram dos trabalhos, na manhã de ontem. Além disso, bens móveis e contas bancárias de 151 pessoas físicas e jurídicas foram bloqueados pela Justiça.
Ao todo, 114 empresas estão sendo investigadas pela Polícia Federal. Destas, segundo Mapurunga, "de 80% a 90% são de fachada". A maioria das empresas são do ramo de construção civil, existindo ainda algumas que dizem ser voltadas para serviços de tecnologia ou até de aluguel de veículos.
As apurações dos federais tiveram início no mês de julho do ano de 2014. Os documentos estudados pelos policiais são do início do ano de 2012 até meados do ano de 2014. As agências Náutico e Francisco Sá, da Caixa, em Fortaleza, foram os alvos das investigações.
Funcionários
Um gerente de cada unidade foi preso. Conforme a PF, ambos já foram afastados e um deles, demitido. Este, que trabalhava na agência Náutico, já havia sido, inclusive, preso em março do ano passado, na deflagração da 'Operação Fidúcia'. Ele havia concedido, conforme as apurações, empréstimos fraudulentos a um outro grupo de empresários, utilizando também documentação falsa.
Para os policiais federais, ficou evidenciada a prática de crime de peculato. Segundo o delegado Gilson Mapurunga, além de conceder os empréstimos para os empresários, os gerentes ainda cediam valores para parentes. Desta forma, os próprios funcionários tomavam para si uma parte dos valores.
Os suspeitos investigados responderão, na medida de suas participações, pelos crimes de estelionato, falsidade ideológica, uso de documento falso, peculato, corrupções ativa e passiva, crime financeiro, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Teia milionária
Os empréstimos concedidos a pessoas físicas e jurídicas nas agências da Caixa Econômica Federal já foram notícia em março do ano passado. Naquela ocasião, quando foi deflagrada a 'Operação Fidúcia', 56 mandados judiciais foram cumpridos, resultando na prisão de 17 pessoas. Conforme a PF informou, havia a alienação das garantias dos empréstimos. Contudo, tais garantias eram fraudulentas ou inexistentes.
A estimativa da Polícia era que aquele primeiro grupo tivesse desviado entre R$ 20 e R$ 100 milhões em empréstimos, durante um período de aproximadamente um ano e meio.
Veículos de luxo, dólares, apartamentos em áreas nobres e até um avião foram apreendidos pelos federais. Os empresários investigados também abriam empresas fictícias de construção civil para obtenção dos empréstimos, com apoio de servidores da Caixa. O dinheiro foi lavado na compra dos bens luxuosos. Contas bancárias no exterior também serviram ao esquema.
Diário do Nordeste
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