O Rio de Janeiro amanheceu embaixo d’água na manhã
dessa quarta-feira. Até o último boletim de notícias do Centro de Operações
Rio, a Defesa Civil havia recebido 213 ocorrências. A Via Binário, inaugurada
há menos de dois meses, ficou totalmente alagada na altura da Cidade do Samba.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, chegou a afirmar que os problemas na via
continuarão até 2016 porque o sistema de drenagem no local não está concluído.
As chuvas fortes, já no começo da madrugada, atingiram principalmente a zona norte
da cidade e a Baixada Fluminense.
Os batalhões do corpo de bombeiros da cidade
receberam muito mais chamadas do que o normal. A maioria das ocorrências foram
por conta de alagamentos e o 24º GBM de Irajá chegou a atender um caso com
vítima fatal. Os desabamentos também foram recorrentes.
Na Penha, os bombeiros
foram acionados ainda de madrugada por causa da queda de um muro na rua Irapuã.
O Sistema de Alerta e Alarme Comunitário da Prefeitura do Rio também foi
acionado e as sirenes de 49 comunidades foram disparadas a partir das 4h55.
O
especialista em gerenciamento de risco Gustavo Cunha Mello explica que o
sistema de sirenes é um bom começo, mas não passa de uma medida paliativa. “Em
momentos de crise, os bombeiros não têm efetivo para chegar às regiões,
principalmente quando é preciso atender a cidade inteira. Para evitar o caos, é
preciso criar núcleos de defesa civil nas comunidades, para que cada uma tenha
o seu. Moradores precisam aprender primeiros socorros, tem que ter pluviômetros
e trabalhar com treinamentos ordenados para saber o que fazer nesses momentos.
De mais de 300 áreas de risco, poucas tem sirenes, e elas são medidas
paliativas”, conta.
As
bacias da Baía de Guanabara e Jacarepaguá foram colocadas em estágio de atenção
por conta das chuvas. Esse é o segundo nível em uma escala de quatro, e
significa previsão de chuvas moderadas e fortes nas próximas horas. O temporal
dessa madrugada correspondeu à media prevista para todo o mês de dezembro e
deve continuar até sexta-feira.
Uma
das principais vias da cidade, a Avenida Brasil, chegou a ser interditada em
seus dois sentidos por conta das chuvas. A Via Dutra também ficou fechada em
diversos pontos de alagamentos. Eduardo Paes sugere que as pessoas não saiam de
casa, para evitar acidentes. Gustavo Cunha também aconselha que todos
permaneçam em casa. “Infelizmente, a solução do prefeito, agora, é a melhor
opção. A população deve permanecer em casa. Nas ruas, há risco de o vento
derrubar os fios de alta tensão e alguém ser eletrocutado. Além disso, as águas
estão em contato com o esgoto, que traz urina de ratos. Se a pessoa estiver com
uma ferida no pé, pode pegar leptospirose”, diz.
Apesar
de concordar com o conselho do prefeito, Gustavo acredita que medidas em longo
prazo devem ser tomadas para diminuir os danos causados por tempestades. “Obras
para muros de contenção em áreas de risco e limpeza e drenagem dos rios são
extremamente necessários para acabar com esse tipo de problema. Terminar as
obras do mergulhão da Praça da Bandeira, além de expandir esses mergulhões para
outras áreas da cidade também são medidas que ajudam, já que o mergulhão
concentra a água para que bombas drenem. Outra coisa muito importante é que as
pessoas precisam aprender a não jogar lixo nos rios porque ele é o mesmo que
vai encher depois”, explica.
Gustavo
conta ainda que para conter os danos causados à cidade, a Prefeitura precisa
criar uma lista de prioridades em que essas obras estejam no topo da lista.
Segundo ele, há muito dinheiro sendo gasto em outros projetos. O Porto
Maravilha, por exemplo, custará quase R$ 8 bilhões. “Com esse orçamento seria
fácil corrigir 100% dos problemas nas áreas de risco. O problema que a cidade
enfrenta é crônico, acontece desde 2010. A culpa da Prefeitura existe a partir
do momento em que não prioriza obras para conter esses danos. Estamos chegando
em 2014 e nada mudou. O orçamento da GeoRio é pequeno se comparado ao desafio
que ela enfrenta”, conta.
Amanda Rocha* Jornal do Brasil
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