O
crime organizado criou um sistema de comunicação alternativo ao telefone
celular para manter os negócios em funcionamento sem a interferência da polícia
e do Ministério Público Estadual (MPE). É o chamado "bate-bola" -
envio de mensagens de dentro do presídio para as ruas. O sistema é dominado por
integrantes da cúpula da facção que exercem a função de "sintonia da
rua" - ou seja, mantém a coesão e a ordem segundo as normas da facção
entre presos ou bandidos livres.
De
acordo com as investigações do MPE, os criminosos da cúpula mandariam
"pipas" para as ruas, como são chamados os bilhetes por meio de
mulheres, as pontes. "Essas mulheres levam semanalmente os bilhetes
ocultos nos órgãos genitais para dentro dos presídios e após a
"visita" trazem a resposta para os comandados na rua", afirmaram
os 23 promotores de todos os Grupos de Atuação Especial de Repressão ao Crime
Organizado (Gaecos) no Estado de São Paulo.
Para
manter o fornecimento de celulares nas cadeias, a facção comprou um
"portal", como os detentos chamam os detectores de metal iguais aos
usados por bancos. O objetivo era fazer testes para encontrar uma forma de
passar telefone pelo detector sem o aparelho ser percebido. A operação,
aparentemente custosa, tinha como objetivo diminuir os gastos da facção, pois
agentes corruptos estavam pedindo até R$ 25 mil para deixar entrar um único
telefone na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde está presa a maioria
da cúpula do PCC.
Se
há a necessidade de contato mais rápido, os bandidos mobilizam advogados que
servem de pombo-correio para o crime.
Quando
precisou reagir ao que considerava "ações covardes da PM" que estaria
executando bandidos, a direção do PCC decidiu usar o celular para passar uma
ordem a todos os seus integrantes em liberdade. Era um "salve geral"
em 2012.
A
investigação detectou a ordem para matar PMs em vingança - ao todo, 106 foram
assassinados. Às 23h40 de 13 de agosto do anos passado, o preso Jonathan da
Silva Santana, um dos acusados de ser responsável pela Sintonia do Interior
repassou a ordem para um de seus subordinados. Por ela, para cada criminoso
assassinado por PMs, dois policiais deviam morrer e, para cada bandido preso
por meio de provas forjadas, um PM devia ser morto.
Balanço.
Com as investigações, os promotores esclareceram dezenas de crimes a partir das
ordens da cúpula do PCC. Ao todo, nos três anos e meio de investigações 82
armas (47 fuzis), 64 veículos, R$ 1 milhão e 4,7 toneladas de drogas foram
apreendidos. Foram presas 144 pessoas. "Tudo isso no período compreendido
entre o mês de junho de 2010 até o ano de 2013, demonstrando assim, a
estabilidade da organização até a presente data." / MARCELO GODOY/ESTADÃO.
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