Manifestações populares em São Paulo nos
últimos anos foram usadas pela Polícia Militar como justificativa para
solicitar a compra de fuzis de alta precisão e espingardas semiautomáticas.
O pedido foi aprovado, mas ainda não há data
para a compra ser efetivada.
São 50 fuzis destinados a atiradores de elite
e 200 carabinas calibre 12 investimentos estimados em R$ 7,4 milhões.
Esse armamento, solicitado à Secretaria da
Segurança, será destinado a unidades especiais, como Rota, COE e Gate.
Entre as armas encomendadas estão fuzis
Barret calibre. 416 com poder para perfurar blindados entre 600 e 2.000 m.
"Não há emprego para isso em cidades. Só se alguém roubar um carro
blindado e fizer um ataque à polícia", diz Lincoln Tendler, da revista
"Magnum", especialista em armas.
O pedido apresentado em junho, auge dos
protestos pelo país, causou mal-estar na cúpula da Segurança.
Entre os exemplos de "distúrbios"
listados está o confronto entre policiais militares e civis, em 2008.
Na ocasião, policiais civis em campanha
salarial tentaram protestar em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do
governo, mas foram impedidos pela Tropa de Choque.
Policiais dos dois lados ficaram feridos no
confronto, um deles a tiro. "Houve uso de tiro real por parte da turba,
tanto que o sr. cel. PM [Danilo] Antão foi atingindo com um projétil na região
da virilha", diz trecho do documento.
O documento também fala de facções criminosas
e o crescimento do poder bélico dos bandidos.
A PM não quis comentar. A Secretaria da Segurança, em nota, disse que foi um "erro técnico" a inclusão de manifestações no pedido.
Os documentos são assinados por quatro
oficiais, entre eles o comandante-geral, Benedito Roberto Meira, e o então
comandante do policiamento do Choque, César Augusto Morelli.
A PM também cita outros protestos, como as
que ocorreram nas favelas Paraisópolis e Heliópolis, em 2009, e na reintegração
de posse em São José dos Campos, conhecida como Pinheirinho, em 2012.
Para a presidente da Associação dos Delegados
de São Paulo, Marilda Pansonato Pinheiro, os pedidos reforçam o perfil da PM.
"É da natureza dela. Como força auxiliar do Exército, ela enxerga o
cidadão como inimigo", opina.
Oficial da reserva, o coronel Nilson Giraldi
diz que a PM precisa do armamento, mas não para usá-lo contra manifestantes.
"Sua aplicação seria contra a criminalidade mortífera, aquela que
deliberadamente mata. Seria a última alternativa, medida extrema para preservar
vidas inocentes, incluindo a do PM."
FOLHA SP
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