O
ano de 2013 está acabando. E a vida da Kombi também... As iluminações de Natal
tomam os prédios e os membros do Sampa Kombi Clube, de São Paulo (SP), rodam
com fitas pretas nos carros... Além de ser lembrado pelo ano em que os
mensaleiros foram presos e que o Cruzeiro levou o Campeonato Brasileiro de
futebol, dois mil e treze também encerra a produção da Kombi pela Volkswagen.
A
Velha Senhora, após 56 anos de produção, se despede, vítima da regulamentação
que exigirá airbags de série em todos os carros a partir de 2014. A Volkswagen
tentou, mas a arquitetura do carro, datada da década de 1950, não permitiu a
instalação dos equipamentos de segurança no carro, que saiu da linha montagem
de São Bernardo do Campo (SP) pela primeira vez em 1957.
Saindo de cena sem perder a majestade
Apesar
de a legislação ter colocado o último prego no caixão do primeiro carro
fabricado pela Volkswagen no Brasil, a Kombi já estava encontrando dificuldades
para acompanhar o atual mercado. Revolucionário na época de seu lançamento, o
desenho fazia com que o motorista sentasse sobre o eixo dianteiro e, tão logo,
transformava os joelhos dos passageiros numa espécie de segundo para-choque. E
não era apenas este o problema.
A direção da Kombi, inclinada como num ônibus,
sempre teve uma folga crônica. Manter o carro em linha reta dá mais trabalho
que fazer uma curva, pois são necessárias constantes correções de curso.
Quando
foi a última vez que você viu uma propaganda da Kombi? Tirando uma despedida
nas revistas e uma campanha “Não era você que queria um carro branco de três
portas?” para brincar com os pomposos comerciais do Hyundai Veloster, a Velha
Senhora era vista difícil nos comerciais. Mesmo assim, a Volkswagen vende mais
de 2.000 unidades por mês há mais de uma década, sendo o furgão mais vendido do
Brasil, segundo os dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de
Veículos Automotores).
Para
entender essa dubiedade da Kombi, o iCarros testou uma unidade modelo 2013. A
vocação para o trabalho era evidente: barro por baixo dos carpetes e um adesivo
perdido no porta-luvas mostravam que o carro transportava os trabalhadores
alocados nas obras de ampliação do aeroporto de Guarulhos (SP).
Dirigi-la
é um ato de reaprendizagem. Não há assistência na direção nem ventilação forçada,
a alavanca de câmbio tem quase um metro de comprimento. Sua melhor chance de se
refrescar é com os quebra-ventos, lembram-se deles? Para piorar, a Kombi não é
nenhuma pechincha. Custa R$ 50.930 na versão avaliada, com capacidade para nove
passageiros. A furgão é oferecida por R$ 47.580.
O
motor que empurra a Kombi foi introduzido em 2007, emprestado do Fox que era
exportado para a Europa. Trata-se de um 1.4 flex com 80 cv de potência rodando
com etanol e 78 cv com gasolina. Mais para cumpridor que para performático, o
propulsor foi a principal evolução mecânica do carro desde o lançamento.
Bicombustível e arrefecido à água eram termos que não existiam em 1957.
O
câmbio é um caso a parte. Nas primeiras horas atrás do volante, não dá para
entender como a Kombi ainda faz sucesso. Impreciso, com apenas quatro marchas,
insiste em querer engatar a ré quando se passa da primeira para segunda. Cada
troca exige um curso enorme entre as posições - e esforço do motorista. A
direção é pesada demais, mesmo com o carro vazio, e seu diâmetro é incomum para
os padrões atuais. O acabamento interno existe apenas na frente, onde as portas
recebem um tampo de madeira e o teto tem uma forração que abriga luz interna
retirada diretamente da segunda geração do Gol.
Depois
de xingar, suar e até temer pela própria vida dentro do carro, ele começa a
crescer em você. É estranho, mas é o que acontece. A Kombi te lembra que, um
dia, o que ela entrega era tudo que se precisava para andar de carro. Tem
espaço, leva uma tonelada de carga e/ou passageiros e não chove dentro. Pra quê
mais que isso? A Kombi é aquela pulga atrás da orelha que te lembra o
quanto fomos mimados pelos controles eletrônicos dos carros e que, não tem
muito tempo, dirigir era mais uma questão de habilidade do que de vontade. Uma
verdade inconveniente.
Os
oito passageiros e o motorista têm espaço de sobra para pernas e cabeça, mais
que muita van moderna. São 4,5 m de comprimento, 1,7 m de largura, 2 m de
altura e 2,4 m de entre-eixos (a mesma medida do primeiro Fusca). Andar na
Velha Senhora no caótico trânsito de São Paulo (SP), cercado por SUV’s
blindados, chega a dar orgulho, pois você é um motorista melhor se conseguir
domar as particularidades da Kombi.
Muitos
comemoram o final da produção do carro e estão certos. A Kombi é errada sob
qualquer aspecto de um carro produzido em 2013. É fácil entender isso. Difícil
é compreender a majestade do carro que te levou pra escola, para praia, fez
carreto, vendeu pastel na feira e que passou décadas ocupada demais trabalhando
para se preocupar com atualizações. Vá com Deus, rainha...
As opções que ficam
Sem
deixar herdeiros diretos na casa de São Bernardo do Campo (SP), a batalha pela
coroa da Kombi como “pau pra toda obra” no mercado brasileiro ainda é um
mistério, porque nenhum dos candidatos faz o que a Kombi sem fez sem esforço:
levar muita coisa e muita gente ao mesmo tempo, com baixo custo de manutenção e
farta oferta de peças.
No
front chinês, Effa, Rely, CN Auto e Shineray têm nada menos que 12 opções de
veículos diferentes, entre picapes, vans de passageiros e furgões. Os preços
variam entre R$ 20 mil (para as picapes) e R$ 30 mil (para as vans). Entre os
nacionais, a Fiat é a que chega mais perto. Com a Strada Working cabine dupla
para quatro passageiros e carga na caçamba, mas em doses homeopáticas de ambos.
A configuração custa R$ 42.330 e tem motor 1.4 flex de 86 cv com etanol. Usando
o mesmo propulsor, o Doblò pode levar até sete passageiros (o sétimo assento é
opcional) por R$ 54.334, mas não chega aos nove ocupantes como a Kombi.
Entre
tantas e nenhuma opção para ficar com o legado da Kombi, o iCarros conheceu
a Rely Link para analisar se a proposta atende às necessidades do público da
Velha Senhora. A Link é o lançamento mais recente da marca de veículos
comerciais controlada pela Chery e operada no Brasil pela empresa que fazia a
importação dos modelos de passeio para cá antes de a companhia se nacionalizar.
Esta van para oito passageiros com cara de desenho animado foi apresentada em
setembro e custa R$ 47.990.
Oferecida
em versão única, a Link tem motor 1.3 16V a gasolina de 83 cv acoplado a um
câmbio manual de cinco marchas. Diferentemente de suas conterrâneas, com motor
1.0 e tração traseira, a Rely é mais moderna. De série, o carro traz direção
hidráulica, ar-condicionado com saída para as fileiras traseiras, ABS, airbag
duplo frontal, acionamento elétrico dos vidros dianteiros, espelhos e travas e
rádio com entrada USB. Há uma segunda porta lateral corrediça, para facilitar o
acesso. A Link consegue entregar uma evolução grande de projeto e equipamentos
sem cobrar a mais por isso. O tamanho é uma delas, com 4 m de comprimento, 1,6
m de largura e 1,9 m de altura.
O
motor dá conta do recado, mesmo com todos os assentos ocupados e, com a tração
dianteira, o carro se mostra mais seguro em curvas, sem desgarrar ou adernar
alarmantemente nas mudanças de direção. Até em velocidades altas, é perceptível
o trabalho da marca para fazer o isolamento acústico funcionar. No documento da
Link, consta “uso misto”. Ou seja, assim como na Kombi, você vai poder levar
carga ou passageiros no mesmo carro. O único porém é que, enquanto os espaço
para as cabeças é farto, para as pernas e para os ombros, é escasso.
Texto e Fotos: Thiago Moreno / Fonte: iCarros
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