Xapuri
(AC) - A identificação na entrada da cidade é uma referência clara da luta dos
seringueiros. “Xapuri, Cidade de Chico Mendes”. Com pouco mais de 16 mil
habitantes, o município localizado na região do Alto Acre, a cerca de 180 quilômetros da
capital Rio Branco, ainda conserva as características do interior.
A
cidade natal de Chico Mendes tem ruas estreitas, a maioria de blocos de pedra.
Poucas são asfaltadas. Seu filho mais ilustre é lembrado em praticamente todos
os cantos. Logo na entrada, está a fábrica de preservativos masculinos Natex,
construída em parceira pelos governos estadual e federal. Criada para escoar a
produção do látex, atualmente a empresa não garante plenamente o retorno financeiro
aos antigos soldados da borracha, que recebem pouco mais de R$ 7 pelo quilo do
produto.
Perto
do centro, a casa onde Chico Mendes viveu e morreu virou um ponto de cultivo à
memória do seringueiro. Ao lado, foi erguido o Museu Chico Mendes, que abriga
fotos, textos e objetos usados pelo líder sindicalista. A cidade também guarda
traços dos conflitos que há 25 anos provocaram a morte de Chico Mendes e
líderes sindicalistas.
Ao
longo dos ramais, como são chamadas as estradas de chão batido que dão acesso
às propriedades rurais – as colocações - é constante o cenário de áreas
desmatadas para criação de gado. E os números confirmam: nos últimos 15 anos, o
rebanho bovino no Acre saltou de 900 mil cabeças para mais de 3 milhões de
animais.
“Hoje
a questão da pecuária adentrou as comunidades rurais dos antigos seringais em
função das necessidades. Na época, junto com Chico Mendes, os seringueiros
defendiam a posse da terra, mas não estava definido que tipo de atividade
econômica ia ser eterna. Naquele momento, era o extrativismo, porque propiciava
o básico do básico do que se consumia na época”, disse a vice-presidente do
Sindicato dos Produtores Rurais de Xapuri, Dercy Teles.
Sentado
à frente da casa de Chico Mendes, como costuma fazer quase todos os dias, o
ex-seringueiro Luiz Targino de Oliveira, 81 anos, teme pelo futuro da floresta.
“Quero ver daqui a alguns anos, quando não tiver mais nenhuma árvore e a seca
comendo. Porque a briga é pelo dinheiro. O fazendeiro não está satisfeito em
possuir mil cabeças de gado, quer possuir 5 mil e destruir. Porque, para ele
criar muito gado, ele tem que destruir a natureza. Onde tem o único pulmão de
floresta é na Amazônia”.
No
Seringal Cachoeira, onde Chico Mendes viveu boa parte da vida, a criação de
gado e a retirada seletiva de madeira fazem parte do dia a dia dos
extrativistas. Os longos percursos, antes feitos a pé, hoje são desbravados por
motos. A escola idealizada por Chico Mendes evita que os filhos dos homens da
floresta precisem ir até a cidade para estudar.
“Ninguém
produz riqueza, mas vive com a barriga cheia e corpo coberto. Hoje, vemos
nossos filhos ir para a escola e voltar porque a escola está aqui na casa dos
seringueiros. A cada três horas de caminhada tem escola e também temos ônibus
escolar. Então, é suficiente para a gente viver com a barriga cheia, corpo
coberto e tranquilidade. Hoje, boa parte [das pessoas] tem geladeira e
televisão. É uma vida que nem se compara com a vida que nós tínhamos aqui há
dez, 20, 50 anos”, disse Raimundo Mendes de Barros, primo de Chico Mendes.
Fonte: Exame.com
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