Foto: Edson Silva/Folhapress |
O usuário de drogas tem
em média 25 anos e só procura ajuda após cinco anos de consumo. É o que
identificou uma pesquisa da faculdade de medicina da USP Ribeirão Preto (313 km
de São Paulo) nos atendimentos feitos no HC (Hospital das Clínicas).
Em
11 anos, os atendimentos cresceram 247%, de 198 casos em 2000 para 687 em 2010.
Os pacientes que aceitaram ajuda –na maior parte homens viciados em crack e
cocaína– foram encaminhados para tratamentos específicos no local.
A
idade considerada jovem na maioria dos casos pode estar relacionada ao início
do uso das drogas na fase da adolescência, disse Erikson Felipe Furtado, médico
responsável pelo ambulatório de álcool e drogas da unidade de assistência
terapêutica do HC (Hospital das Clínicas) da USP Ribeirão Preto.
"É
um período de experimentação para muitos dos jovens e adolescentes", disse.
Já
a demora em buscar o tratamento é um reflexo dos efeitos da droga. Os usuários
não encaram o vício como um problema até que outras consequências passem a
incidir, como o prejuízo à saúde geral e o fim dos laços sociais.
"Demora
muito até que a família perceba ou que ele comece a falhar em seus ambientes,
como escola e trabalho", disse o médico.
"A
droga traz prazer, tira fome, o sono, e ele só vai procurar ajuda se tiver um
outro problema de saúde associado", afirmou Sandra Cristina Píllon,
professora da escola de enfermagem da USP, orientadora de um outro estudo sobre
usuários de drogas.
Sobre
o sexo do usuário, Furtado afirmou que o homem aparenta ser mais vulnerável ao
uso de drogas. A exceção, segundo ele, é para drogas como anfetaminas, usadas
em tratamentos para emagrecer e remédios como calmantes, cujas mulheres são
mais vulneráveis.
PREVENÇÃO
O
ambulatório de álcool e drogas da USP funciona desde 1999 e atende uma média de
120 pacientes por ano que são encaminhados pelo próprio HC. No geral, eles
ficam dois anos em tratamento.
A
equipe de atendimento é multidisciplinar e conta com psiquiatra, psicólogo,
enfermeiro e assistente social. O tratamento é gratuito e pago com recursos do
governo de São Paulo.
Para
Furtado, o maior problema identificado pela pesquisa é o longo tempo de uso dos
pacientes que dificulta o tratamento. "Por isso, é importante fazer um
trabalho de prevenção", disse Ildebrando Moraes de Souza, psicólogo
responsável pela pesquisa do hospital.
Sem
fumar crack há seis anos, Fabiana, 44, procurou ajuda para tratar o vício após
24 anos de uso. Segundo ela, foi voluntariamente, por sentir falta dos laços
familiares e não suportar a depressão e as alucinações causadas pela
intoxicação da droga.
"Antes
eu nem sabia que tinha tratamento", disse.
Depois
de ter passado por uma clínica de reabilitação em Santa Rita do Passa Quatro
(248 km de São Paulo), ela foi indicada ao ambulatório do HC. Lá, ela passou
por várias etapas oferecidas pela clínica, e ainda participa semanalmente
delas.
Na
antiga Ceagesp, na Vila Virgínia, o usuário Marco, 30, diz que fuma crack desde
os 18 anos. Ele conta nunca ter buscado ajuda médica e que não se preocupa. Seu
colega, Carlos, 32, também começou a usar drogas na adolescência. Ele vive de
bicos para alimentar o vício.
Por Folha de S. Paulo
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