Ex-ministro Cid Gomes morou em casa paga pelo governo do Ceará

Ex-ministro Cid Gomes morou em casa paga pelo governo do Ceará

No curto espaço de tempo em que ocupou o cargo de ministro da Educação, Cid Gomes morou numa casa alugada pelo governo do Ceará no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, pelo valor de 15 mil reais por mês, fora despesas com manutenção e segurança, segundo reportagem da revista Época. Na edição desta segunda, o jornal O Povo mostra que a casa foi alugada em 2011 para servir como residência oficial de “Representação do Governo do Estado do Ceará” na capital federal.

Que mal há nisso?

A explicação seria a reforma no imóvel funcional destinado aos eventuais ocupantes da pasta. Não basta. Por que então o ministério não alugou outro imóvel? No fundo, somos tentados a compreender a situação. Tentações são assim, dissimuladas. Sabe como é, a casa já estava ali mesmo, sem ninguém morando, e o governador Camilo Santana, além de aliado, deve sua eleição ao seu antecessor. Que mal faria? Aparentemente, nenhum, mas ocorre que Cid não representava o Ceará em Brasília, mas sim o governo federal, responsável, portanto, pelos custos de sua estadia na cidade. Cada um no seu quadrado, diz a canção.

Caso algum outro cearense vá a capital do Brasil trabalhar poderá se hospedar na tal casa? Se fosse um político de oposição, teria o mesmo tratamento? Claro que, não! A hospedagem de Cid foi favor feito com dinheiro público aos amigos do poder, exemplo nada republicano. Aliás, tratar o público como privado – igual ao que já havia acontecido no caso do jatinho alugado para a famosa viagem à Europa com a sogra – infelizmente, é comum na tradição política nacional. É o famoso patrimonialismo, vício que está na raiz de nossa corrupção crônica.

Do ex-ministro ao ex-governador

Como todos sabem, Cid chamou o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do PMDB, de achacador. Também desafiou rebeldes da base aliada a largarem o osso. O cidadão comum, gostou, é claro. Mas o que vem a ser esse osso? Ora, são as benesses oferecidas pelo governo a um partido em troca de apoio. Como políticos andam desacreditados, Cid surgiu após o episódio como no papel de defensor da moralidade na política. Muita gente nem percebeu que o até então ministro dizia a quem se vendeu, que entregasse a mercadoria ou fosse para a oposição. Seus aliados locais foram às raias da histeria, sonhando até com uma candidatura presidencial. Menos de uma semana depois, a casa caiu.

Cid disse algumas verdades? Sim, em alto e bom som. E ouviu outras também, diga-se. Eles se conhecem. De todo modo, quanta ironia, com a revelação da moradia indevida, o recado do ex-ministro da Educação aos parlamentares cabe como uma luva para o ex-governador do Ceará e seus convidados reunidos no luxo da casa paga pelos contribuintes cearenses: “Larguem o osso!”

*Por Wanderley Filho/Tribuna do Ceará

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