Que mal há nisso?
A explicação seria a reforma no imóvel funcional destinado aos eventuais ocupantes da pasta. Não basta. Por que então o ministério não alugou outro imóvel? No fundo, somos tentados a compreender a situação. Tentações são assim, dissimuladas. Sabe como é, a casa já estava ali mesmo, sem ninguém morando, e o governador Camilo Santana, além de aliado, deve sua eleição ao seu antecessor. Que mal faria? Aparentemente, nenhum, mas ocorre que Cid não representava o Ceará em Brasília, mas sim o governo federal, responsável, portanto, pelos custos de sua estadia na cidade. Cada um no seu quadrado, diz a canção.
Caso algum outro cearense vá a capital do Brasil trabalhar poderá se hospedar na tal casa? Se fosse um político de oposição, teria o mesmo tratamento? Claro que, não! A hospedagem de Cid foi favor feito com dinheiro público aos amigos do poder, exemplo nada republicano. Aliás, tratar o público como privado – igual ao que já havia acontecido no caso do jatinho alugado para a famosa viagem à Europa com a sogra – infelizmente, é comum na tradição política nacional. É o famoso patrimonialismo, vício que está na raiz de nossa corrupção crônica.
Do ex-ministro ao ex-governador
Como todos sabem, Cid chamou o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do PMDB, de achacador. Também desafiou rebeldes da base aliada a largarem o osso. O cidadão comum, gostou, é claro. Mas o que vem a ser esse osso? Ora, são as benesses oferecidas pelo governo a um partido em troca de apoio. Como políticos andam desacreditados, Cid surgiu após o episódio como no papel de defensor da moralidade na política. Muita gente nem percebeu que o até então ministro dizia a quem se vendeu, que entregasse a mercadoria ou fosse para a oposição. Seus aliados locais foram às raias da histeria, sonhando até com uma candidatura presidencial. Menos de uma semana depois, a casa caiu.
Cid disse algumas verdades? Sim, em alto e bom som. E ouviu outras também, diga-se. Eles se conhecem. De todo modo, quanta ironia, com a revelação da moradia indevida, o recado do ex-ministro da Educação aos parlamentares cabe como uma luva para o ex-governador do Ceará e seus convidados reunidos no luxo da casa paga pelos contribuintes cearenses: “Larguem o osso!”
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