Após
mais de dois meses de investigações, a Polícia Civil do Rio vai indiciar e
pedir a prisão de policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP)
da Favela da Rocinha, em São Conrado, zona sul do Rio, pelo sumiço de Amarildo
de Souza, de 43 anos. Está descartada a hipótese de que o pedreiro tenha sido
capturado e morto por traficantes.
O
delegado Rivaldo Barbosa, da Divisão de Homicídios (DH), que assumiu as
investigações do caso em 1.º de agosto, deverá anunciar nesta sexta-feira, 27,
o resultado do inquérito e divulgar quantos PMs serão indiciados. No dia em que
Amarildo sumiu havia 13 policiais de plantão na UPP, dos quais quatro tiveram
contato direto com ele, ao conduzi-lo em uma patrulha da PM. Amarildo está
desaparecido desde 14 de julho, quando foi conduzido de sua casa, na Rua 2, à
sede da UPP, na localidade conhecida como Portão Vermelho, na parte alta da
favela.
O
relatório de Barbosa com os indiciamentos foi finalizado na semana passada,
depois de duas testemunhas falarem que o major Edson Santos, ex-comandante da
UPP, tentou corrompê-las para acusar o traficante Thiago Neris, o Catatau, pela
morte de Amarildo. Ao Estado, o major, transferido do comando da UPP para o
Batalhão de Operações Especiais (Bope), negou as acusações.
Até
os depoimentos das duas testemunhas, o diretor do inquérito considerava ainda
não ter indícios consistentes que levassem ao indiciamento dos policiais
militares que estiveram com o pedreiro no dia do desaparecimento. O delegado
Barbosa chegou a confidenciar a pessoas próximas que estava se sentindo
bastante pressionado para concluir o caso. Conforme o Estado noticiou no dia
10, a pressão aumentou ainda mais quando o ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo (PT), disse por telefone ao governador Sérgio Cabral (PMDB) que a
Polícia Federal (PF) poderia abrir uma investigação paralela. Após o
telefonema, ele foi chamado ao Palácio Guanabara por Cabral, que cobrou uma
solução rápida.
Os
depoimentos das duas testemunhas – mãe e filho de 16 anos, moradores na Rocinha
– ocorreram quase que por acaso. O garoto foi atingido por um tiro de fuzil na
perna em 25 de maio, ao tentar fugir de PMs da UPP que o acusavam de ligação
com o tráfico. Ele teve alta hospitalar no dia 11 e foi levado pelos PMs que o
escoltavam, por engano, para depor na 15.ª Delegacia de Polícia (DP). O menor
deveria depor na 14.ª DP.
Na
15.ª DP, ele disse ao delegado Orlando Zaccone que acusara Catatau de matar
Amarildo porque o major Santos lhe oferecera R$ 500 mensais para ele e a mãe
alugarem uma casa fora da Rocinha, pois estariam jurados de morte por traficantes.
A acusação contra Catatau fora feita em depoimento ao Ministério Público
Militar, que acompanha o Inquérito Policial Militar (IPM) aberto pela
Corregedoria da PM para investigar a participação de policiais no caso. O menor
foi levado ao MP Militar pelo major Santos.
No
hospital. Ainda segundo o adolescente, um policial da 15.ª DP prometeu lhe
presentear com um iPhone e um par de tênis para que mantivesse a acusação
contra Catatau. O mesmo policial participou da investigação que resultou na
Operação Paz Armada, quando 33 suspeitos de ligação com o tráfico na Rocinha
foram presos, na véspera do sumiço de Amarildo.
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